Review: "Siddharta", de Herman Hesse

27/04/2016




Editora: (Público)

Autor: Herman Hesse

Edição: (maio de 2002)

Número de páginas: 127



Sobre o autor

Nascido em 1877 e filho de pais missionários protestantes que pregaram o cristianismo na Índia, estudou no seminário de Maulbronn, mas não seguiu a carreira de pastor como era a vontade de seus pais. Tendo recusado a religião, ainda adolescente, rompeu com a família e emigrou para a Suíça em 1912, trabalhando como livreiro e operário. Acumula, então, uma sólida cultura autodidata e resolve dedicar-se à literatura. Em 1946 recebeu o Prémio Goethe e, passados alguns meses, o Nobel da Literatura.



O livro

Olá a todos!! :)

Este livro foi-me muito gentilmente emprestado e eu não sabia muito bem o que esperar dele.. A verdade é que pensei que se tratasse de uma profunda reflexão filosófica "isolada". Isto é, sem história propriamente dita.

Mas estava completamente enganado! Como sabem, não é meu hábito ler livros do género, mas que venham mais... Este pequeno livro surpreendeu-me pela positiva!!

Não esperem uma história de cortar o fôlego nem mesmo textos filosóficos "condensados" no papel.. Este livro é muito mais do que isso!

No fundo, trata-se da vida de Siddharta que, cansado da sua vida (essencialmente a nível religioso), vai deixar de ser o "filho do brâmane" para se juntar, com o seu amigo e seguidor Govinda, aos samanas.

"Mas onde estavam os brâmanes, os sacerdotes, os sábios ou penitentes, que conseguiram não apenas possuir este conhecimento, mas vivê-lo?" 

Contudo, a miséria e o sofrimento da vida que passou a levar não tinham, para ele, o significado que outros encontravam nela. Assim, mudou de vida novamente, procurando o Buda (que atingira o Nirvana, o mais alto estado de espiritualidade na vida de um homem). Mas nem a sua doutrina o atraiu, tendo deixado o seu amigo, que passou a viver segundo os ensinamentos do Sublime.

Atravessando um rio, vive no prazer durante muito tempo, no prazer do dinheiro, no prazer do amor (com Kamala, sua "mestra"). Depois, farta-se dessa vida e volta à calma, à simplicidade, com um amigo novo, o barqueiro do rio que antes atravessara, rio esse que passou a ser o seu mestre (a natureza).

Entretanto, dá-se uma reviravolta na história, que não vou contar (já revelei demasiado!)..

Neste livro, tudo tem significado, tudo é objeto de reflexão. Em pouco mais de 100 páginas, o leitor sente que aprendeu algo, que refletiu sobre algo, eu diria que se trata de uma leitura quase "intelectual"! :)

Para além das "lições" que ficam connosco (depois de lermos este livro, não somos os mesmos), temos acesso à opinião do autor acerca das religiões e crenças orientais.

Quanto à escrita do autor, este nóbel da literatura.. Isto vai soar estranho, mas a sua "montagem de frases" é como a coca-cola, ou seja, "primeiro estranha-se e depois entranha-se". Isto porque ele tem um estilo muito próprio, repleto de anáforas, repetições,... Mas, poucas páginas depois, a leitura flui com naturalidade.

Eu poderia dizer que cada parágrafo tem o seu simbolismo e o seu significado, mas, não posso transcrever o livro todo!!

Resumindo, considero um livro que se lê numa tarde (mas com concentração!) e que nos mostra, através do percurso do protagonista, o seguinte: não se encontra o que se procura, encontra-se o que se encontra..

"Quando alguém procura (...) pode acontecer que os seus olhos vejam apenas a coisa que ele procura, que não permitam que ele a encontre. (...) Procurar significa ter um objetivo. Mas encontrar significa ser livre, manter-se aberto, não ter objetivos. Tu, Venerável, és talvez um homem à procura, pios, perseguindo o teu objetivo, muitas vezes não vês aquilo que está perante os seus olhos"


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