E a profunda dor pessoal terá de ser deixada para segundo plano... Elizabeth, sentindo-se impreparada para a tarefa da governação, será obrigada, contudo, a tomar as rédeas de um mundo em reviravolta, mas preso a estruturas demasiado conservadoras e limitativas. Pior do que isso, Elizabeth depara-se com uma enorme luta interior: ser mulher/irmã/mãe/filha, ou colocar a Coroa à frente de tudo?

Bem, algo é inegável: "The Crown" dá corpo à h/História com muito cuidado, tomando muitas vezes por base pequenos detalhes que viram mini-tragédias ou quase-lendas dos dias de hoje. Mas o verdadeiramente interessante nesta(s) série(s) é a arte de dar corpo aos factos, de introduzir sentimentos e relações e ligá-los aos acontecimentos e reações públicas que se conhecem e registam. E, nisso, esta série consegue ser agradavelmente surpreendente.

Contudo, senti que poderia ter mais sentimento. Uma boa série histórica deveria ir mais além, introduzir-nos no sentimento do período histórico ao ponto de estarmos completamente envolvidos. O que não é alcançado nesta temporada, talvez fruto do foco permanente na classe política/real.

E por falar em política... Não posso deixar de referir o fantástico tributo a Churchill! Ainda que nem sempre certo (como será de esperar numa pessoa / personagem real), a sua visão política de domínio de diplomacia e opinião pública é manifestamente brilhante, o que é perfeitamente percetível nesta série (não obstante a vivência de uma fase final e longínqua do auge da carreira deste homem). Existe, inclusivamente, um episodio que lhe é especialmente dedicado.

A reflexão sobre símbolos e pessoas está bem conseguida, assim como determinados momentos do guião (que estão simplesmente TÃO-BEM-ESCRITOS!!). O tom está perfeitamente definido, especialmente através das luzes e cores acinzentadas e chuvosas, dos cenários cuidadosamente planeados e da fotografia sublime.

As personagens têm os seus Q's... Infelizmente, nenhuma se revelou a mim especialmente cativante... A rainha consegue chegar até nós em certos momentos, mas, sinceramente, na maior parte do tempo, só lhe queria bater!! Ela agia quando não devia e ficava impávida e serena em vez de tomar as atitudes que tinha de concretizar!

Já as atuações por trás das personagens estão verdadeiramente irrepreensíveis.

Enfim... Aconselho a todos os que sintam alguma curiosidade por este momento histórico do Reino Unido ou por alguma das suas figuras. Ou então procurem uma trama histórica pautada por alguns dramas e reflexões políticas. Bem como pelo torturante dilema entre o self e o duty... Vale a pena!

Boas leituras!! ;)